«Sou contemporâneo do Miguel Sousa Tavares, e, não obstante estar em
frequente desacordo com o que ele diz e escreve, admiro-lhe o talento
literário e o seu desassombro de homem livre. Das coisas que sempre mais
lhe critiquei, foi o seu conformismo relativamente à ortodoxia oficial
do FC Porto, desde há 30 anos, caracterizada por um facciosismo
exacerbado; o FC Porto, com os sucessos desportivos que tem tido, podia
ser um clube muito maior do que aquilo que hoje é, porque o seu
sectarismo acaba por lhe retirar dimensão.
Só que, como em
tudo na vida, há limites, até para a dedicação cega, e até o Miguel
Sousa Tavares acabou por abrir os olhos e questionar o óbvio, ou seja,
aquilo que toda a gente via, mas ninguém tinha a coragem de trazer a
público. Em concreto, num artigo em jornal da concorrência,
interrogou-se sobre os elevados montantes pagos pelos passes de Ghilas,
Herrera e Quintero – claramente desproporcionados relativamente ao seu
valor como jogadores – e exprimiu a opinião que os 3,7 milhões de euros
correspondentes a metade do passe de Ghilas não terão chegado aos cofres
do Moreirense, titular formal do mesmo. Sabe-se agora que a SAD do
Porto acionou judicialmente Miguel Sousa Tavares por causa do artigo,
reclamando um milhão de euros, por alegados danos morais.
Desta
insólita iniciativa retiram-se duas conclusões. A primeira é a de que o
núcleo duro do FC Porto está a encolher a olhos vistos, reduzindo-se à
sua expressão mais simples, quando age desta forma contra um fiel entre
os fiéis, como era o Miguel Sousa Tavares, a quem raramente se conheceu
uma palavra dissonante da cartilha oficial. A segunda, muito mais grave,
é a de que não acredito que ninguém, nem mesmo o demandante, tenha a
mais remota expectativa de a ação proceder e de fazer prova do alegado
prejuízo; o que está em causa, sejamos claros, é uma pura manobra de
intimidação.
Sob a ameaça da exaustão económica, quer-se calar
uma voz que agora se tornou incómoda, porque resolveu dizer alto o que
muitos sussurram baixinho, e que foi perguntar porque é que o FC Porto
ganha tanto dinheiro com as vendas de jogadores e ainda tem um passivo
tão grande, e em que becos esconsos se vai perdendo aquilo que deveria
pertencer ao clube.
Por outras palavras, o FC Porto persegue o
Miguel Sousa Tavares por delito de opinião. O que é, convenhamos, muito
feio, e ilustra a dificuldade com que os seus dirigentes convivem com a
liberdade de expressão. Sendo o Miguel um homem de coragem, tenho a
certeza que não vai esmorecer; só espero que, cicatrizadas as feridas
(eu sei o que são desgostos clubísticos!), este episódio o ajude a olhar
para o FC Porto como tem olhado para tudo o resto na vida, ou seja, com
independência.»
(Carlos Barbosa da Cruz, in Record)
1 comentário:
Se eu compreendi bem, este Carlos Barbosa da Cruz, que em princïpio
deve ser jornalista, està a elo-
giar o MST por este ter feito (ou talvez lhe tenham relatado os factos )o trabalho que compete a qualquer jornalista: a investi-
gação de factos que possam ser de interesse publico,com coragem e
sem deturpar a verdade...! Ora as
palavras coragem e verdade não
fazem parte, na esmagadora maioria das vezes das directivas
do record. Deontologia não mora
neste jornal. Para os pröximos
eventos/artigos sobre o FCP,DEVIAM
SEMPRE CONSULTAR O MST: ele sabe mais que vocês, NÃO TEM MEDO e
é sempre mais um fanàtico anti-
-Benfica; logo os artigos dele
terão todo o interesse para o
record, que assim servirà, de
bandeja, o scp. Não???
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