«Paulo Fonseca parecia possuído quando se apresentou aos jornalistas
para dissecar as emoções extremas da última jornada do apuramento da
Taça da Liga, sintetizando o que acabara de se passar com a frase
lapidar que, no FCPorto, figura em primeiro lugar na tábua dos
mandamentos para uma vida feliz: “Nós não fazemos o papel de anjinhos.”
À
mesma hora, em Penafiel, treinador e presidente do Sporting falavam de
imoralidade e de suspeitas de favorecimento por omissão, por parte da
Liga, incapaz de garantir a mais básica das equidades desportivas, a da
garantia que todos os concorrentes têm as mesmas condições para lutar
pelas vitórias, a começar pelo respeito e observância dos próprios
regulamentos de competições. E sim, as queixas do Sporting voltam a soar
como justificação tardia e como demonização de um vencedor que nunca
olha a meios para alcançar os objetivos. Neste caso, o FCPorto fez tudo o
que, aparentemente, a permissividade dos delegados da Liga lhe
permitiu, com um elevado grau de profissionalismo, perversidade à parte,
que fez toda a diferença na reta final da corrida ao golo, com o
Sporting. Mais penálti, menos penálti, mais golo duvidoso menos erro
escandaloso, já se sabe como acaba a história: no fim ganha o Porto.
Muitos
anos e quatro presidências depois da célebre denúncia de Dias da Cunha,
o Sporting prossegue a sua luta virtual contra moinhos que sopram cada
vez mais forte, tendo acrescentado em Penafiel a sua longa lista de
vitórias morais ou, de acordo com o presidente, mais uma derrota imoral.
Parece sina, mas trata-se simplesmente da expressão de diferenças
acumuladas pelo tempo, com a consolidação de profissionais e métodos que
não se importam, não se importam mesmo nada, de serem confundidos com
demónios e coriscos.
A equipa do Sporting realizou nos últimos
meses uma enorme recuperação desportiva e bate-se agora em campo de
igual para igual com os rivais, chegando a dar a sensação de que já nada
lhe falta para poder chegar novamente aos títulos. No entanto, a meio
da temporada, já foi eliminada das duas Taças e resta-lhe o campeonato,
com apenas 14 jogos para disputar em quatro meses – o que pode redundar
em handicap positivo, considerando que os adversários vão jogar duas
vezes por semana a partir daqui, em quatro frentes.
Vai
sobrar muito tempo aos responsáveis leoninos para estudarem os métodos
diabólicos e deixarem, o mais rapidamente possível, de serem tratados
como anjinhos pelos adversários.»
(João Querido Manha, in Record)
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