Época 2015/16

Época 2015/16

Crónicas do Brasil



Este blog, embora pareça, não é só de futebol como poderão ver no arquivo de postagens.
Saíu mais um artigo meu no jornal AVENIDA MARGINAL (Faial-Açores) este fim de semana.
Para quem não tem acesso ao referido jornal, poderá lê-lo aqui.
Uma nota prévia, no artigo publicado, por questões de espaço, tive de omitir as celebrações nos Estados de Goiás, Minas Gerais, S. Paulo e Rio de Janeiro, deixando apenas as do Maranhão e Santa Catarina que no meu entender são mais genuínas. O que aqui vão ler é a versão integral.


Celebrações do Espírito Santo também no Brasil

A sua origem remonta às celebrações religiosas realizadas em Portugal a partir do século XIV, nas quais a terceira pessoa da Santíssima Trindade era festejada com banquetes colectivos designados de “bodo aos pobres”, com distribuição de comida e esmolas.
Fontes históricas referem que teriam sido instituídas em 1321, pelo Convento Franciscano de Alenquer, sob proteção da Rainha Santa Isabel de Portugal e Aragão.
Estas celebrações aconteciam cinquenta dias após a Páscoa, comemorando o dia de Pentecostes, que de acordo com o Novo Testamento teria sido quando o Espírito Santo desceu do céu sobre os apóstolos de Cristo sob a forma de “línguas como de fogo”. Desde o seu início, os festejos do Divino que eram realizados na época das primeiras colheitas no calendário agrícola do hemisfério norte, são marcados pela esperança na chegada de uma nova era para o mundo dos homens, com igualdade, prosperidade e abundância para todos.
A devoção ao Divino encontrou um solo fértil para florescer, em especial no arquipélago dos Açores. Daí se espalhando para outras áreas colonizadas por açorianos, como a Nova Inglaterra, nos Estados Unidos da América e diversos lugares do Brasil.

Onde se celebra no Brasil

O costume de festejar o Espírito Santo terá chegado ao Brasil logo nas primeiras décadas de colonização.
Hoje, a festa do Divino realiza-se praticamente em todas as regiões do país, apresentando características distintas em cada local, mas mantendo elementos comuns, como a pomba branca e a santa coroa, a coroação de imperadores e a distribuição de esmolas.
Os festejos são mais marcantes nalguns lugares dos Estados do Maranhão, de Goiás, de Minas Gerais, de S. Paulo, do Rio de Janeiro e de Santa Catarina.

No Maranhão, o culto ao Divino Espírito Santo começou com os colonos açorianos e seus descendentes, que desde o início do século XVII chegaram para povoar a região. A partir de meados do século XIX, a tradição da festa do Divino começou a ficar firmemente enraizada entre a população da cidade de Alcântara, de onde se espalhou para o resto do Estado, tornando-se muito popular entre as diversas camadas da sociedade, especialmente as mais pobres e estreitamente identificada com as mulheres, sobretudo negras ligadas às religiões afro-brasileiras. Esse facto distingue a festa no Maranhão das festas do Divino realizadas noutras regiões do país e dá-lhe uma feição muito particular.

Em Goiás, foi introduzida na cidade histórica de Pirenópolis em 1819, sendo festejada até hoje durante cerca de 20 dias, através de diversas manifestações, como congadas, reinados, juizados, folias, queima de fogos, pastorinhas, missas, novena do divino (entoadas em latim pela Orquestra e Coral Nossa Senhora do Rosário), levantamento do mastro (de 30 metros de altura), mascarados (personagens desta festa que montados a cavalo, fazem algazarra pela cidade) e as tradicionais cavalhadas de Pirenópolis. Em menor escala, celebram-se também em Corumbá e Jaraguá.

Em Minas Gerais, tem maior expressão em S. João del-Rei, no Santuário do Senhor Bom Jesus, no bairro de Matosinhos, onde é celebrado o Jubileu do Divino Espírito Santo. Este jubileu foi autorizado em 1783 pelo Papa Pio VI.
No ano de 1924, os festejos profanos foram paralisados, mas em 1998 um grupo de folcloristas retomou a parte profana da festa e a reincorporou.

No Estado de S. Paulo, em Tietê, a origem da festa está ligada à triste história da “epidemia de maleita” que matou muitas pessoas por volta do ano de 1830. O povo fez então a promessa ao Divino Espírito Santo para que acabasse com a doença e em sua homenagem seria feita uma festa anual.
Nessa festa, repete-se o ritual dos Irmãos do Divino que no passado iam com batelões até os sítios ou chácaras mais distantes para prestar socorro às famílias que sofriam com a epidemia.
Continuando a tradição, os Irmãos viajam durante quarenta dias, rio acima e rio abaixo, levando a imagem do Divino e arrecadando donativos pela zona rural em benefício da festa. Passam a noite em residências onde já são aguardados, sendo recebidos com jantares, cantorias e muita gente. Este é o chamado "Pouso do Divino". Curioso é que esta festa ocorre no último sábado do ano quando acontece o tradicional “Encontro das Canoas”.
Em Conchas, existe uma Irmandade do Divino na Capela de São João. Eles viajam pela região utilizando autocarros e camiões. Também são recebidos em sítios (pequenas quintas), nalgumas casas da cidade e até na cidade vizinha de Pereiras.
Em São Luís do Paraitinga, começa todos os anos na sexta-feira de pentecostes, durando ao todo 10 dias, durante os quais são realizadas cerca de 20 procissões. O dia principal da festa é conhecido como Grande Dia. A cidade é despertada por volta das 6 horas com o toque da alvorada, a cargo da banda de música e do batuque da congada. Revezam-se as missas e as apresentações folclóricas, nomeadamente, congadas, moçambiques, pau-de-cebo, o casal de bonecões João Paulino e Maria Angu e cavalhada, para além da distribuição de doces para o povo, brincadeiras para as crianças, como as corridas de ovo e corridas de saco. Há também a distribuição gratuita aos visitantes da festa de um prato caipira típico, o afogado. Para prepará-lo são abatidas entre 15 a 20 vacas.

Em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, onde talvez seja uma das mais tradicionais de todo o território brasileiro, conserva ainda à risca aspectos do período colonial e mobiliza em cada ano centenas de pessoas. Embora possa envolver gente de todos os extractos sociais, quase todos os participantes são pessoas humildes, de baixo poder aquisitivo, que se esforçam para produzir uma festa rica e luxuosa, onde não podem faltar as refeições fartas, a decoração requintada e caras vestimentas para as crianças do império. Toda a festa do Divino, que pode durar até 15 dias, gira em torno de um grupo de crianças, chamando-se império ou reinado. Essas crianças são vestidas com trajes de nobres e tratadas como tais durante os dias da festa.
O império é estruturado de acordo com uma hierarquia, no topo da qual estão o imperador e a imperatriz (ou rei e rainha), logo a seguir ficam o mordomo-régio e a mordoma-régia, vindo depois o mordomo-mor e a mordoma-mor. No final da festa, o imperador e a imperatriz transmitem os seus cargos aos mordomos que os ocuparão no ano seguinte, recomeçando o ciclo.

Em Florianópolis, capital do estado e da ilha de Santa Catarina, a tradição da festa do Divino foi iniciada no século XVIII, e desde então realizada pela Irmandade do Divino Espírito Santo, que tem por objectivo divulgar e propagar a devoção ao Divino Espírito Santo, mantendo viva essa tradição através da promoção de acções solidárias e de carácter religioso. Após um período de interrupção, foi retomada anualmente, a partir de 1994 na Praça Getúlio Vargas.
A Irmandade tem na Festa do Divino, um pilar de sustentação financeira, para a manutenção dos programas de atendimento oferecido a 1.100 crianças e adolescentes da Grande Florianópolis. Ela é a mais popular das festas folclóricas de Santa Catarina e vem sendo conservada até hoje, procurando manter o máximo de autenticidade, primando pelo rigor do acto litúrgico e mantendo a expressão cultural açoriana reverenciada na festa.
Para além da capital, a festa é realizada também, há mais de 250 anos, na comunidade de Santo Antônio de Lisboa, que é uma das comunidades mais antigas da ilha e um dos berços da colonização açoriana na cidade. A Festa do Divino Espírito Santo tem um pouco disso, promover o encontro entre a religiosidade oriunda dos Açores e as demais manifestações culturais que fazem parte da ilha de Santa Catarina. Esta festa é precedida da “romaria da bandeira do Divino”, cuja finalidade é a recolha de esmolas, óbulos e espórtulas, destinadas a auxiliar as despesas com a festa. Antigamente esta colecta era considerada uma cerimônia, na qual os irmãos das confrarias vestiam as suas opas vermelhas e acompanhavam o grupo que conduzia a bandeira e a coroa.
A festa do Divino Espírito Santo de Santo Amaro da Imperatriz, também na ilha, teve início no dia 29 de Maio de 1854, após consulta ao Padre Macário César de Alexandria e Sousa (Pároco de São José), o qual atendia o Arraial de Santo Amaro, e que consentiu com a instituição da Festa do Divino Espírito Santo, com a realização da respectiva novena, com a presença dos mordomos, do festeiro e da população em geral, para cantar em acção de graças ao Divino Espírito Santo.
Um dos grandes atractivos da Festa é a Corte Imperial, formada pela família do festeiro que usa trajes baseados em modelos usados pela corte, apresentando-se ao povo toda a pompa que havia na corte Imperial e realizando-se nos pavilhões da Igreja Matriz de Santo Amaro sendo uma das maiores e mais tradicionais Festas do Divino no Brasil, totalmente de carácter voluntário e só possível devido à colaboração da comunidade em geral, estimando-se que umas 60.000 pessoas passem pelos pavilhões da Festa durante os quatro dias de duração.
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Bibliografia:
Gustavo Pacheco, Cláudia Gouveia e Maria Clara Abreu. Caixeiras do Espírito Santo de São Luís do Maranhão. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2005.

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