Época 2015/16

Época 2015/16

Para ler e meditar

A final do campeonato de basquetebol ainda continua a suscitar opiniões. E esta que publico abaixo merece ser lida com atenção.

Propositadamente deixei passar a histeria nacional que se abateu sobre os incidentes registados no final do quinto e último embate do playoff de basquetebol. E só agora, semanas depois e quando o mundo está a olhar para o Europeu de futebol, resolvi dizer algumas coisas sobre aquilo que ocorreu no Dragão Caixa.

Quem jogou basquetebol tantos anos e passou mais uns quantos a ser treinador jamais poderá dizer que não aprecia uma final de playoff até ao último encontro, até à derradeira posse de bola. Essa é a essência do sistema de disputa que, com o passar dos anos, em Portugal e não só, foi adoptado por variadíssimas modalidades. Por isso, a primeira ideia que pretendo transmitir é que Benfica e FC Porto foram dignos finalistas e tudo fizeram para ficar com o título.

Ganharam as águias, mas podiam ter ganho os dragões. Os encarnados foram mais fortes na final e na maioria dos confrontos directos, mas os azuis e brancos mostraram ser mais consistentes na fase regular, como se atesta pelo facto de terem terminado na frente, pese terem perdido os dois duelos com o rival.

Emoção e incerteza quanto ao vencedor não significa, desde logo, bons espectáculos. Benfica e FC Porto, durante a final, mostraram problemas exagerados para controlar a posse de bola, para acertar lançamentos relativamente fáceis, para cobrar lances-livres. Mérito das defesas? Sim, em parte, mas não sempre. Nervos e ansiedade próprios do momento? Sim, em parte, mas essa desculpa não pode servir sempre quando em causa estão os melhores conjuntos nacionais, recheados de elementos experientes e habituados a embates ao mais alto nível, nomeadamente ao serviço da Seleção Nacional.

Segunda ideia: ninguém falou dos árbitros após o jogo 5. E se ninguém o fez, tal deve-se ao simples facto dos juízes terem tido um trabalho sensacional em condições naturalmente complicadas face ao carácter decisivo do embate. O Benfica não ganhou por ter sido ajudado, nem o FC Porto perdeu por ter sido prejudicado. O mesmo se diria, aliás, se o "tiro" de meio-campo de Carlos Andrade tivesse entrado.

Bom, passemos então ao resto. No que pouco ou nada tem a ver com basquetebol, mas que conseguiu fazer com que o País, de repente, mais parecesse a Lituânia, visto que toda a gente só falava da modalidade. Falo dos cidadãos anónimos, mas também de um ror de opinadores que, pese nunca terem sido vistos num pavilhão, foram céleres a dizer de sua justiça.

Os gestos que Carlos Lisboa protagonizou no final do encontro não são bonitos. E não deviam ter sido feitos. Mas foram, no seguimento de um momento de enorme stress em que, nesta ou noutra modalidade, os intérpretes têm dificuldade em controlar as emoções, em ignorar os apupos. O técnico disse depois, em entrevista a Record feita por mim, que os gestos tiveram um único destinatário. Um sujeito que foi para o pavilhão carregado de cartazes a implicar com o treinador encarnado e com alguns jogadores.

Tenho para mim que a pressão vinda das bancadas faz parte do processo da alta competição. Considero que jogadores, treinadores ou dirigentes devem aprender a lidar com isso. Lisboa, pese toda a sua experiência, vacilou e ficou mal na fotografia. No entanto, como tantas vezes se diz, é preciso ver para além da imagem que nos chega. Que quer isso dizer? Basicamente que ele não é louco, da mesma forma que diria que Carlos Andrade não seria louco se, num dos duelos da Luz, fosse mais longe na resposta às contínuas provocações de que foi alvo por parte de muitos adeptos encarnados.

Lisboa não esteve bem e sabe-o, da mesma forma que sabe (e disse) porque reagiu de forma inapropriada. Ainda assim, para uns quantos iluminados da nossa praça, "devia ser irradiado" ou, mais engraçado, "não faz falta ao desporto nacional".

Sou pela democracia e isso faz-me defender que todos têm direito a expressar as suas opiniões. Mas a liberdade, acrescente-se, também me permite não concordar com algumas das coisas que leio, vejo ou escuto. Mais: faz com que possa directamente criticar as opiniões alheias. E é exactamente por beneficiar desse previlégio que hoje, neste espaço, gostaria de saber o que é que esses entendidos recomendariam caso Carlos Lisboa tivesse agredido alguém?

Neste país de memória curta - e não me peçam para dar exemplos porque o texto já vai longo - muitos presidentes de federações, dirigentes ou treinadores não estariam em funções se os tais "moralistas" pudessem pintar o mundo à sua maneira. Ou as opiniões mudam consoante o clube do prevaricador?

Um senhor bizarro e estridente, que é excelente na sua área profissional mas não descansou enquanto não ganhou protagonismo no clube do coração, acha que "Lisboa está a mais no desporto nacional". É uma opinião. Perante isso gostava de saber o que pensa sobre o treinador de futebol do seu clube? Provavelmente estava fora quando esse agora técnico atravessou a capital de uma ponta a outra antes de agredir o seleccionador... E também devia estar ocupado quando a mesma pessoa, então na pele de dirigente, agrediu um futebolista do seu próprio clube. É pena ser tão esquecido... Mas, acredito, a amnésia (selectiva) acabará um dia.

PS – Para quem não sabe ou já se esqueceu: não foi a primeira vez que um campeão nacional de basquetebol recebeu a taça no balneário e os incidentes registados no Dragão Caixa não foram os mais graves que aconteceram no basquetebol nacional (no Porto, por exemplo, já sucederam episódios consideravelmente piores). A diferença é que, no passado, não tínhamos twitter, facebook, telemóveis, vários canais televisivos, Internet, etc, etc.
(Luís Avelãs, in Record)

6 comentários:

GRÃO VASCO disse...

Caro Manuel,

Sabes que aqui, a este espaço venho sempre!

Quando vi o título do post, fui lê-lo imediatamente. Confesso que a meio, a prosa mastigada já estava a desiludir-me. Quando cheguei ao fim e vi quem era o autor, dei o meu tempo por mal empregado.

Manuel, este gajo do "record das pêtas" não merece sequer uma menção que seja no teu fantástico blogue!

Um Abraço Amigo.
GRÃO VASCO

SiuL disse...

e porque nao falas do jogo do futsal e das 4 agressoes o fdp do goncalo alves aos jogadores do sporter?nao viste isso ou eras pequenino e nao te lembras....
eu so vi na tv e da bem para ver que todas elas foram nas barbas dos arbitros mas como se ele fosse marcar era contra os camisolas vermelhas, fez de conta que nao viu......nao mandes so bitaites para o ar

Manuel disse...

Grande comentário ainda para mais vindo de onde vem.

Anónimo disse...

SIUL, QUEM ESTÁ FORA RACHA LENHA, POR ISSO, NÃO TENS VOTO NA MATÉRIA.
O GRANDE GONÇALO ALVES NÃO FEZ NADA DE MAL, AS LAGARTIXAS É QUE SÃO DEMASIADO SENSÍVEIS.

VAMOS LÁ GANHAR.




O ARTIGO ESTÁ MUITO BOM.

Manuel Oliveira disse...

Amigo Grão Vasco, não costumo apreciar os textos do autor deste que transcrevi, mas concordei com as críticas que ele faz a algumas pessoas que tentaram "assassinar" o nosso treinador e dirigente Carlos Lisboa.

Abraço.

Manuel Oliveira disse...

SiuL, o teu comentário vem muito a propósito do post!
Vamos ver o que vai acontecer em Loures este fim de semana.

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