Domingos Soares de Oliveira, elemento da SAD do Benfica, responsável pela
área financeira e que muitos benfiquistas gostariam de ver fora do
clube por supostamente ser adepto do Sporting, concedeu uma extensa
entrevista ao Record.
Fala de tudo e esclarece inclusivé a questão de ser ou não ser benfiquista.
Depois de ler o que ele disse, não vejo motivo para ele sair do Benfica. Se não é já um benfiquista convicto, o facto de ter feito sócio à nascença o seu filho, agora com um ano e meio, significa que já sente o clube. Há tantos casos de jogadores e treinadores que antes eram adeptos doutros clubes e que mudam porque não pode acontecer o mesmo com este director?
Jesus não é/era sportinguista?
Fábio Coentrão não se dizia sportinguista antes de chegar ao Benfica?
André Gomes não era portista antes de vir para o Benfica?
"Uma das criticas mais fortes que se tem feito neste período
pré-eleitoral tem a ver com os números do passivo do Benfica. Na
realidade, qual é o passivo neste momento?
Se falarmos no passivo consolidado, que é
que interessa aos benfiquistas, existem duas vertentes: o passivo
financeiro, que se situa em 237 milhões no final do último exercício,
portanto muito muito abaixo dos 500 milhões falados por alguns, e o
passivo não financeiro, que tem a ver com dívidas a parceiros e que se
situa nos 119 milhões. Portanto, estamos a falar de um total que não
chega a 400 milhões.
Elementos da lista de Rui Rangel insistem no passivo não bancário. O que é isso em concreto?
É aquilo que normalmente tem a ver com
compras que se fazem e cuja parte essencial se refere a compra de
jogadores. A maioria dos nossos parceiros aceita que o Benfica possa
fazer esses pagamentos ao longo de determinado período.
Há alguma razão especial para o passivo ter atingido estes números?
O passivo tem estado razoavelmente estável
e tem crescido em consonância com os activos. Aquilo que temos feito
desde o investimento no estádio, Caixa Futebol Campus, Benfica TV... Não
temos parado de investir, ainda recentemente comprámos o Campo do Bravo
para a equipa B, o museu também é um investimento. Quando se fazem
estes investimentos, é natural que o passivo e os activos subam. Algumas
pessoas estão muito preocupadas com o passivo e ainda não ouvi ninguém
falar no aumento de activos cujo valor anda sempre muito próximo do
passivo. Para além disso, continuamos a apostar na capacidade do Benfica
em gerar receitas. Para lhe dar uma ideia, quando Luís Filipe Vieira
chegou, a facturação total do Benfica situava-se nos 42/43 milhões e,
neste momento, a facturação é de 140 milhões. Trata-se de um
investimento estruturado que vai tendo cada vez mais capacidade de gerar
receitas. Talvez as pessoas se esqueçam (e tenho relatórios desde 1994)
que o Benfica já estava com capitais próprios negativos, não tinha
riqueza própria e o único caminho era recorrer ao endividamento.
Há uma ideia do valor dos activos neste momento?
Há, estão valorizados em 361 milhões, naquilo
que é possível reconhecer o valor dos activos. Eu falo sempre na questão
dos jogadores porque os jogadores só podem ser avaliados pelo valor
pelo qual foram adquiridos deduzindo as amortizações. O Witsel estava
reconhecido nos activos como um valor próximo dos 6 milhões e foi
vendido por 40. Isto significa que os nossos crivos estão de acordo com
as normas locais, mas não estão de acordo com o real valor de mercado.
Rui Rangel tem falado com insistência na necessidade de uma auditoria às contas do Benfica.
(interrompe) Nós somos uma empresa
auditada pelas maiores empresas internacionais. O que se pode fazer
agora é auditar os auditores. Porque se as contas do Benfica são
controladas pela CMVM, o que podem querer é auditar os auditores e a
CMVM, e essa prática desconheço.
De que forma é que a crise económica mundial influi nestes números negativos?
No ano passado continuamos a crescer e do
ponto de vista de receitas da componente operacional crescemos 10%. Mas
temos plena consciência de que o Benfica esta inserido num determinado
conceito socioeconómico. Felizmente a maioria dos contratos que temos
são de longa duração e as empresas têm estado satisfeitas e até agora
nenhuma pediu qualquer tipo de renegociação de contrato. Do ponto de
vista dos consumidores sentimos maior dificuldade das pessoas em pagar as
quotas e os seus bilhetes, embora este jogo com o Barcelona tenha sido
um dos cinco melhores jogos desde que o estádio foi inaugurado.
A SAD tem conseguido cumprir escrupulosamente as obrigações com todos os funcionários?
A SAD cumpre com todos os funcionários e
nunca incumpriu, nestes nove anos, com nenhum jogador, nenhum treinador,
nenhum funcionário, com parceiros financeiros ou fornecedores e nunca
tivemos nenhum processo. Não há um único jogador que possa vir reclamar
que p Benfica lhe ficou a dever alguma coisa.
Tem noção que essa é uma realidade pouco vista no futebol português?
Tenho noção, pois temos alguns dados
relativos a outros clubes portugueses e sei que há clubes a passar
dificuldades. É negativo para o sector.
Qual é o valor da marca Benfica actualmente?
Já vi estudos de 50 entidades distintas,
desde superior a 100 milhões a outros que dizem que vale mais de 300
milhões. Mas tenho de reconhecer que não há sitio a que o Benfica se
desloque onde não seja reconhecido, reconhecido e diria quase
idolatrado. Não há nenhuma marca portuguesa que seja mais valiosa do que
o Benfica.
Rui Rangel acusa a actual direcção de transformar o Benfica num entreposto de jogadores.
É verdade que hoje o Benfica tem uma
política distinta daquela que era a politica relativa a jogadores há dez
anos. O dr. Rui Rangel não saberá, mas uma parte significativa dos
contratos que hoje existem são miúdos oriundos da nossa formação e
estamos a falar de dezenas de contratos profissionais. Depois, não temos
95 jogadores, esse dado é falso.
Então quantos tem?
Não lhe vou precisar quantos são, mas é um
número muito mais baixo do que esse. Uma parte significativa dos
jogadores que temos são jogadores que estão emprestados, no sentido de
serem valorizados e, temos vários exemplos de sucesso nesse campo como
foi o caso de Fábio Coentrão. E, portanto, a política que existe é que
esses jogadores são colocados no campeonato português ou no estrangeiro
(como o Nelson Oliveira) e esses clubes pagam o salário do jogador na
totalidade e ainda uma verba pelo empréstimo. Dentro de casa, entre
equipa A, B e juniores temos 40 a 50 jogadores e os que estão
emprestados não significam qualquer custo para o Benfica.
Em que mercados é que o Benfica está a apostar em termos de expansão?
Na expansão internacional a grande aposta é
claramente na Lusofonia. Abrimos escolas em Angola em Moçambique,
estivemos com futebol de formação em todos os PALOP e é aí que está o
grande potencial de crescimento do Benfica. Dos 14 milhões de adeptos,
grande parte está nestes países e tem tido um crescimento muito
interessante.
Termina esta época o contrato de patrocínio com a PT. Uma multinacional como a Emirates era o sponsor ideal?
A Emirates investe no futebol 180 milhões
por ano e faz este investimento nos grandes clubes de cada país.
Naturalmente que a Emirates seria um parceiro comercial interessante.
A PT patrocina igualmente FC Porto e Sporting. Isso é prejudicial?
Não conheço os números de FC Porto e
Sporting, mas tenho uma pequena ideia por aquilo que se ouve no mercado.
Lembro que o estudo da Liga, que é isento, diz que a quantidade dos
adeptos do Benfica em Portugal é igual a soma de adeptos de FC Porto e
Sporting.
Por que é que ainda não se fechou o negocio do naming do estádio?
Porque ainda não conseguimos encontrar o
parceiro certo, quer do ponto de vista financeiro quer da marca. Hoje em
dia, com esta crise mundial, não é em Portugal que vamos encontrar um
parceiro para o naming do estádio nem penso que este dossier se possa
fechar a curto prazo.
O Benfica está presente em reuniões com os grandes clubes da
Europa através da ECA (European Club Association). O que é que se
discute aí?
Estou na componente de "marketing e
comunication" e temos como objectivo encontrar dados para a indústria se
continuar a desenvolver. É uma associação e clubes, mas não é por isso
que não trabalha com a UEFA.
Este grupo tem mais força que o G14?
Tem maior abrangência e creio que mais
força também. É ali que se encontram os grandes decisores dos clubes
como Sandro Rosell (Barcelona), David Gill (Man. United) ou Jean-Michel
Aulas (Lyon). É ali que nos encontramos e abrimos portas para futuros
negócios.
O presidente admitiu recentemente baixar o valor das quotas,
tendo em conta a recessão que atravessa o país. Esta medida será uma
realidade em breve?
Esse assunto não foi ainda tratado como
tal dentro de uma reunião de direcção, porque é a direcção que tem
poderes para isso. Como lhe disse, com esta crise fizemos uma analise e o
Benfica, como toda a sociedade, vai ter de se adaptar às novas regras do
jogo, já que as pessoas têm menos dinheiro, as empresas menos
capacidade de financiamento. Queremos ter o maior número de sócios e
queremos continuar a ter o estádio com afluências significativas. Para
isso vamos ter de baixar pregos e reduzir custos para manter o
equilíbrio.
As receitas de quotização e bilheteira têm vindo a baixar?
Não, até agora não, e isso tem sido uma
das boas surpresas. Mas teremos de ver o impacto a partir de Janeiro,
altura em que a maioria dos sócios como eu paga a quota anual.
O objectivo dos 300 mil sócios ainda é concretizável?
Chegaremos aos 300 mil sócios, não sei
exactamente quando. Há um ano e meio tive um filho que fiz sócio desde o
dia que nasceu e era o 237 mil e qualquer coisa, portanto em determinado
momento haverá o sócio 300 mil. Aquilo que será a nossa luta quando
chegar a essa altura, é que exista a capacidade de os sócios honrarem os
compromissos de quotização.
«Direitos televisivos serão decididos até final do ano»
Estamos a meses do final do contrato com a Olivedesportos para os direitos televisivos. O Benfica já decidiu o que vai fazer?
Não houve nenhuma evolução. Recebemos uma
proposta, tornamo-la pública e não aceitámos por várias razões. Existem
alternativas identificadas, mas não há decisões tomadas e não seria
sensato tomar essa decisão antes das eleições.
Mas para quando uma decisão?
Não quero antecipar datas, até final do ano teremos de ter decisões.
Há quem pague mais que a Olivedesportos?
Sem revelar muito nos tivemos um acordo
com o engenheiro Paes do Amaral em relação a uma suposta proposta que
ele iria fazer e acabou por não fazer. E não existem em Portugal
entidades disponíveis para apresentar um programa concorrente à Sport
TV, até porque os únicos direitos televisivos que estão disponíveis de
imediato, entre clubes da I Liga, são os direitos do Benfica. Se
quisermos avançar para uma alternativa ou conseguimos arranjar um
parceiro internacional e ainda assim a Olivedesportos terá sempre um
direito de preferência para exercer, ou, como já foi falado, exploramos
os direitos dentro da própria Benfica TV. A não ser que a Liga arranje
outra solução, entretanto.
Portanto bastará a Olivedesportos igualar o valor?
A Olivedesportos tem direito de
preferência, são condições negociadas em 2002 e que eram as condições
possíveis na altura e vale a pena elucidar esse tema. Fui dos primeiros a
denunciar que o valor que o Benfica recebia era extremamente baixo sem
paralelo em termos internacionais. Questionei-me porque é que este
acordo tinha sido assumido em 2003 mas como toda a gente sabe o contrato
foi rasgado nos tempos de Vale e Azevedo, o que originou um enorme
imbróglio jurídico. As pessoas que estiveram por detrás do rasgar de
contrato com a Olivedesportos, na altura, deveriam pensar que isso terá
custado qualquer coisa como 70 milhões de receitas que o Benfica não foi
buscar, e isto tem implicações no passivo. Ouvir agora algumas pessoas
que estiveram associadas a Vale e Azevedo virem falar do passivos... As
pessoas deviam ter mais decoro na forma como abordam o assunto.
A maioria dos clubes europeus recebe mais de 40% do total das receitas. É possível lá chegar?
Os clubes recebem em média, 40% e o Benfica
gera receitas internacionais, sem direitos televisivos, de mais de 100
milhões, portanto estaríamos a falar de um valor superior a 40 milhões.
Mas admite fechar contrato abaixo dos 40 milhões?
Nós não temos nenhuma proposta em cima da mesa. Ou essa proposta aparecerá, ou se não aparecer a alternativa é a Benfica TV.
Não acha que a renovação do contrato com a Olivedesportos iria
criar mal-estar junto dos sócios? Até actuais dirigentes já se
manifestaram contra.
Existem duas questões diferentes. Uma é
corporativa e trata-se de uma relação que tem corrido bem com a
Olivedesportos, outra é a percepção que os sócios têm em relação ao
papel desempenhado pela Olivedesportos. E basta ver aquilo que é dito
nas assembleias gerais onde este assunto é sempre posto em cima da mesa.
Não é possível tomar uma decisão sem ter isso em consideração. Se isso
nos condiciona numa eventual negociação? Não vou tão longe.
Os resultados da Benfica TV estão a corresponder às expectativas?
Estão. Sabíamos que tínhamos o problema de
não ter os jogos em directo o que havia muito em termos de share.
Dou-lhe um exemplo: o jogo que fizemos no Algarve, com o Betis, teve um
share altíssimo, de 17 ou 18%.
Por que é que a Benfica TV não faz a cobertura das eleições?
Tomámos essa decisão em 2009 e não temos
os meios de um canal generalista para fazer a cobertura total. O dr. Rui
Rangel declarou que é mau sinal a Benfica TV não ter estado no
lançamento da sua candidatura, mas também não esteve na de Luís Filipe
Vieira. Queremos continuar de forma isenta.
«Nunca recebi um dragão de ouro»
Uma das críticas que lhe fazem frequentemente é o facto de não ser benfiquista. É verdade que torcia pelo Sporting?
Sempre defendi o Benfica com a mesma
tenacidade que qualquer benfiquista defende. Estou de consciência
tranquila. É interessante ouvir críticas de pessoas que se dizem
benfiquistas. Eu nunca recebi um dragão de ouro, nunca fui presidente de
uma casa do FC Porto no Luxemburgo, nunca fui condenado por processos
fiscais a favor do Sporting e nunca tive qualquer processo por fraude
fiscal. Portanto, ouvir algumas pessoas a falar de benfiquismo quando se
tem por perto pessoas assim...
«Encontro muitos adeptos na rua e ninguém me diz que estou a fazer um mau trabalho ou sou lagarto (...)»
Mas essa é das maiores críticas que lhe fazem...
(interrompe) As pessoas que hoje me
criticam são as mesmas pessoas que me contrataram, sabendo quais eras as
minhas características profissionais e pessoais. Isso é pura demagogia.
O meu trabalho avalia-se por quem cá está. Nestes nove anos, fui a mais
jogos do Benfica do que essas pessoas e tenho números de quantas vezes
eles vieram ao estádio. Encontro muitos adeptos na rua, convivo com eles
e ninguém me diz que estou a fazer mau trabalho ou sou lagarto,
sportinguista, ou qualquer outra coisa.
Acha que o cargo de presidente deveria ser remunerado?
Isso é uma questão quase pessoal. O
presidente defende uma linha dura que, reconheço, é cada vez menos
frequente no plano internacional.
E no plano nacional também.
Sim, também, mas não comparo o Benfica com
nenhum clube nacional. O presidente do FC Porto é remunerado, o do
Sporting não é mas desde José Eduardo Bettencourt que pode ser. O
presidente sempre entendeu que quem está nos órgãos sociais não deve ser
remunerado, porque está ao serviço do Benfica. Já nem falo do
presidente que passa aqui 12 a 15 horas por dia, mas de outros como o
Rui Gomes da Silva, que prejudica a vida pessoal e profissional pelo
Benfica. Não me canso de elogiar estes orgãos sociais que se mantiveram
coesos até ao fim e respeito a 100% a vontade do presidente e dos
sócios.
«Realizamos encaixes e o jogador fica aqui»
O Benfica Stars Fund tem tido os resultados esperados?
Fazemos vendas de parte do passe dos
jogadores, mas temos 15% do fundo. As operações já realizadas trouxeram
resultados muito interessantes, a maioria com resultados positivos e
dois ou três em linha com o que estava perspectivado. Vamos ver agora o
que acontece aos outros jogadores que estão no fundo. Conseguimos
encontrar uma solução inovadora em que vendemos pequenas percentagens, o
que nos permite realizar encaixes e o jogador ainda fica aqui.
O valor das acções do Benfica estão muito abaixo do preço de lançamento. Faz sentido continuar na Bolsa?
É uma pergunta difícil, porque qualquer
resposta que lhe desse teria de a justificar perante a CMVM, mas posso
dizer-lhe que não temos qualquer intenção de retirar a Benfica SAD da
Bolsa. É verdade que quem investiu 5 euros e vê hoje as acções a 50/60
cêntimos sente que é um rombo significativo, mas quem investiu na SAD
não procurou dividendos, agiu mais numa perspectiva emocional. Haverá
excepções como o caso do presidente e do sr. José Guilherme, porque
naquela altura era fundamental investir para salvar o Benfica.
«Se não valesse a pena Jesus já não estaria cá»
O Benfica vendeu Javi Garcia e Witsel em cima do fecho do mercado. Estava obrigado a realizar receitas extraordinarias?
Nós teríamos sempre de encontrar, para
este ano, formas de financiamento. Desenvolvemos um modelo diferente em
que é fundamental que a equipa seja extremamente competitiva e para isto
é preciso ter os melhores jogadores e isso não se faz retendo-os aqui
dentro. Neste caso não era essencial vender os dois jogadores, pois
tínhamos financiamento alternativo. Se do ponto de vista desportivo nos
coloca um desafio, do ponto de vista financeiro deixa-nos com uma margem
muito boa para 2012 e 2013.
«Há que deixar de ser hipócritas. O Benfica não pode recusar ofertas de 20, 30, ou 40 milhões»
«Daqui a 2/3 anos, haverá qualidade vinda da formação que nos levará a investir menos no mercado»
Não era possível antecipar estas vendas e garantir substitutos à altura em tempo útil?
Já vi vários treinadores dizerem que a
partir do momento em que aparece uma proposta entre 20 a 30 milhões, os
clubes portugueses não devem hesitar em vender. E o futebol é o momento e
já houve situações em que tivemos oportunidades para vender e não
vendemos, e quando apareceu uma nova proposta o jogador foi vendido por
um valor mais baixo. Em termos internacionais, os clubes vão ter menos
capacidade de investimento mas quando nos aparece uma proposta de 20, 30
ou 40 milhões há que deixar de ser hipócritas e dizer que o Benfica, e
até o país, não se pode dar ao luxo de recusar este dinheiro. As duas
situações, quer do Javi quer do Witsel, são diferentes. Para o Javi
havia a percepção que podia chegar uma proposta e da parte da equipa
técnica sempre houve uma mensagem de confiança em relação às alternativas
que existiam. O caso do Witsel foi diferente, foi uma situação de
última hora que não esperávamos, mas há que reconhecer que Jorge Jesus,
quando confrontado com a situação, sempre disse que arranjaria soluções.
Os adeptos devem estar preparados para mais vendas em Janeiro?
Não creio, ainda não chegamos la, mas não
precisamos de vender em Janeiro. Nessa altura acontecem apenas alguns
ajustes pontuais de compras e vendas.
Mas há excepções como o caso de David Luiz, vendido em Janeiro.
Sim, mas esse é daqueles exemplos em que
lhe posso dizer que perdemos a oportunidade de vender no momento certo e
Janeiro não foi o momento certo. O David revelava vontade em sair e
naqueles seis meses todos percebemos que tínhamos perdido o momento
certo de vender.
A curto prazo o Benfica poderá voltar a fazer investimentos superiores a 30 milhões em jogadores?
Nós temos investido todos os anos verbas
significativas, e esse investimento dividiu-se numa primeira fase em
infraestruturas e numa segunda fase em atletas, e aí foi feito o grosso
do investimento, e que não nos arrependemos. Todos os jogadores que
estão a chegar do futebol de formação dão-nos garantias de poderem estar
na equipa principal dentro de muito pouco tempo. As pessoas queixam-se
muito de que não termos portugueses na equipa principal, mas têm de
entender que este processo demora anos. Se nos lembrarmos da decisão de
Vale e Azevedo em acabar com o futebol de formação, não era, de certeza,
em 2003 ou 2004 que iriam surgir putos e alguns dos miúdos que estão a
aparecer hoje na equipa B estão connosco há 10 anos. Isso é primeiro
factor positivo: haver qualidade que nos permite pensar que dentro de
2/3 anos, com estes bons resultados, vamos ter menor necessidade de
investimento. Temos também feito um excelente trabalho na prospecção
liderado pelo Rui Costa, que considero ser das pessoas que mais percebe
de futebol em Portugal.
Existe um tecto salarial estipulado para o plantel profissional?
Não, não existe nenhum tecto salarial.
Aquilo que temos são escalões, com excepção dos jogadores que vêm da
formação que têm (...) por onde podem evoluir, mas não creio que haja
dois jogadores dentro do Benfica que tenham salários iguais. No entanto,
é diferente comprar um jogador por 10 milhões e trazer outro a custo
zero. Se o trago por 10 milhões com um contrato de cinco anos, a
capacidade é limitada mas se ele vem a zero tenho mais capacidade de lhe
pagar determinado salário durante os anos de contrato. Não defendo
tectos salariais, o tecto principal é o da razoabilidade.
O Benfica tem vindo a descer a massa salarial?
Não, a massa salarial tem crescido muito
por força de factores variáveis que são introduzidos, um que têm a ver
com aquilo que se passa a nível nacional, outros com o que se passa a
nível internacional. O facto de os jogadores terem conseguido chegar aos
quartos-de-final da Champions fez com que se subisse ligeiramente a
massa salarial.
Jorge Jesus é um dos treinadores mais bem pagos de sempre do futebol português. É um esforço financeiro que tem valido a pena?
Se não valesse a pena, Jorge Jesus já não
estaria cá e está há quatro anos connosco. Não sou a pessoa mais
indicada para elencar todos os méritos de Jorge Jesus, mas tudo o que
conseguimos nestes três anos quer ao nível de de títulos, quer do ponto
de vista de performance desportiva, quer da valorização de jogadores,
merecia que alguém escrevesse a história de Jorge Jesus. É um elemento
determinante na estrutura do futebol, que tem também António Carraça,
Rui Costa e o presidente.
Hoje em dia para para ser treinador do Benfica a capacidade de potenciar jogadores é tão importante como a conquista de títulos?
Nós trabalhamos para os adeptos, nunca
podemos esquecer para quem trabalhamos. Toda a estrutura trabalha para o
sucesso desportivo. É muito interessante sermos o maior clube do Mundo,
termos resultados financeiros positivos, museu, infraestruturas, mas na
realidade a essência do Benfica é ganhar títulos. Portanto, tudo o que é
feito nesta casa tem como ponto de referência a conquista de títulos. Já
tivemos anos com 30 milhões de euros de prejuízo e as pessoas estavam
contentes porque ganhámos o campeonato e outras com lucro em que as
pessoas estavam claramente descontentes porque não ganhámos.
PERFIL
Nome: DOMINGOS Cunha Mota SOARES de OLIVEIRA
Nascido em Lisboa, a 4 de junho de 1960 (52 anos). Casado, 4 filhos
Licenciado em Informática e Gestão pela Universidade Paris XI em 1983
Advanced Management Program pelo Insead em 1998
1993-1984
- Analista-programador da Union Française des Banques – Locabail, em Paris
1984-1988
- Director de Organização e Informática da Locapor
1988-1992
- Director-geral da Unisoft
1992-1996
- Administrador delegado da Geslógica
1997-2000
- Country manager para Portugal da Cap Gemini
- Administrador Delegado da Cap Gemini Portugal
2000-2001
- Country Manager para Portugal na nova empresa Cap Gemini Ernst & Young
- Administrador delegado da Cap Gemini Ernst & Young Portugal
2001-2003
- CEO da Cap Gemini Ernst & Young Ibéria
- Presidente e consejero delegado da Cap Gemini Ernst & Young España
- Presidente não executivo da Cap Gemini Ernst & Young Portugal
- Administrador não executivo da Sogeti España
- Maio de 2004 até à data
- Presidente da comissão executiva do Grupo Benfica
- Administrador das seguintes empresas:
- Benfica Futebol SAD
- Benfica Estádio
- Benfica Multimédia
- Benfica SGPS
- Benfica Comercial
- Benfica Seguros
- Clínica do Benfica
- Benfica TV
- É responsável pelas seguintes áreas do Grupo Benfica
- Direcção Comercial & Marketing
- Direcção Financeira
- Futebol Formação
- Direcção Técnica e de Sistemas de Informação
- Benfica Multimédia
- Benfica TV
- Direcção de Recursos Humanos
- Organização de jogos
- Segurança"
3 comentários:
tb gostei da entrevista,axo ke o homem tem feito um excelente trabalho ,os ke dizem mal sao akeles ke kerem o Benfica de rastos pr depois irem comer as sobras,sao akeles ke passam a vida sem fazer nada de jeito e ke vivem da mama!!
boas gosto muito do trabalho que o DSO tem feito no benfica quanto a questao de ele ser lagarto a mim nao me preocupa nada ele e pago pelo benfica e que eu saiba tem feito um exelente trabalho
NÃO ESTEVE MAL NÃO SENHOR, MAS É IMPORTANTE MELHORAR SEMPRE.
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