Projetar um Sporting-Benfica vai muito para além do exercício que se faz
para um simples jogo de futebol. Estamos perante um duelo ancestral e
quando se aproxima o dia é difícil ficar indiferente a histórias
passadas, emoções, alegrias e desilusões vividas. É um jogo sempre
empolgante e apaixonante, capaz de atravessar gerações e perdurar na
memória durante muitos anos. Tudo isso mexe com o dérbi.
Quando Elias se solta
O Sporting procura carregar baterias para o que resta de época. E ainda resta muita época!
Se
o Sporting vê neste jogo a linha que separa os bons dos medíocres, que
imortaliza uns em detrimento de outros, que diferencia os que acreditam
daqueles que já deixaram de acreditar, dos que ainda conseguem ver o
Sporting capaz de jogar olhos nos olhos contra o seu maior rival de
sempre, pois eis chegado o momento que representa tudo isso.
Vercauteren
irá aproveitar para passar essa mensagem aos jogadores, blindar o
balneário e tentar mostrar no dérbi que este Sporting ainda é capaz de
conseguir entrar num novo ciclo.
Para ter sucesso é
fundamental assimilar a cultura tática que muito tem faltado a este
Sporting. Dentro do 4x2x3x1, – que no meu ponto de vista a torna mais
compacta e mais segura –, a equipa consegue desdobrar-se no 4x3x3
pensado para esta época. É o momento em que Elias se liberta dos deveres
defensivos e participa no planeamento ofensivo; onde os extremos ganham
dimensão e largura q.b. e facilidade de desdobramento no processo
defensivo; em que os laterais veem os movimentos serem compensados com
mais segurança e facilidade.
Apesar desses bons indícios, Van
Wolfswinkel ainda carece de ajuda direta seja de um médio, de um
segundo ponta ou de um falso extremo (Labyad?).
Para que tudo
isto funcione é preciso que Rui Patrício deixe de ser o melhor em campo
jogo após jogo. Por outro lado, os centrais não podem continuar a ser o
elo mais fraco de uma equipa que reclama por estabilidade. Por outro
lado, a mobilidade e as trocas posicionais têm de passar do papel para o
terreno de jogo. Só assim o Sporting poderá ganhar.
Matic salta linhas
O Benfica está forte,
ambicioso, competente e capaz de ir a Alvalade impor os seus processos, a
sua metodologia e fazer o jogo perfeito.
O Benfica faz do processo ofensivo a sua principal força, seja em ataque planeado ou em transições.
Partindo
do já habitual 4x1x3x2, o futebol doBenfica ganhou ainda mais dimensão
com a entrada de Matic pela sua qualidade e verticalidade no passe,
saltando linhas em posse e permitindo à equipa ser mais rápida após a
conquista da posse da bola.
Luisão apareceu mais “jovem” e em
boa hora uma vez que Enzo Pérez, na posição 8, não consegue libertar-se
dos pensamentos e dos processos próprios de um extremo. Por outro
lado... ainda bem que assim é! É que ele entrega a bola como gostaria de
recebê-la. Isto é, bem “redondinha”. O afortunado é Ola John. Bruno
César ou André Gomes irão completar o miolo.
Cardozo recuperou
os movimentos de apoio, acrescentando energia à ambição de ser o melhor
entre os avançados. E não é fácil, pois Lima faz tudo bem. É agressivo
com e sem bola, sabe servir e, melhor ainda, sabe marcar.
É
mais um dérbi de tripla: 1 para quem acredita e tem de acreditar na
mudança e 2 para quem quer ser campeão. Estão, pois, reunidas condições
para um grande jogo.
O TESTE DE VERCAUTEREN E O MODELO DE JESUS
É
o maior desafio da era Franky Vercauteren também em termos táticos.
Está à prova a sua capacidade real de mexer no plano técnico/tático,
sabendo que uma vitória no dérbi pode significar a reconciliação com a
massa associativa, a credibilidade que o presidente procura e precisa,
além de ajudá-lo a seguir em frente de cabeça levantada.
O
modelo de Jesus é agressivo e atrativo porque incorpora muitos jogadores
em todos os processos ofensivos, exige dinâmicas e rotinas. Mas não só.
Também obriga o adversário a baixar as suas linhas e muitas vezes a ter
de jogar num bloco médio-baixo.
O Benfica, no entanto, deve
ter cuidado e muita atenção aos desdobramentos defensivos, onde muitas
vezes há défice de elementos, permitindo aos adversários acreditarem que
com critério na primeira transição podem criar perigo e chegar ao golo.
Daí a importância do equilíbrio quer dos laterais quer dos extremos no
movimento de basculação defensiva. (Hélder Cristóvão, in Record)
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