Época 2015/16

Época 2015/16

Estou curioso

Mário Figueiredo, presidente da Liga de Clubes, concedeu uma extensa entrevista ao Record.
Dos vários temas abordados, achei mais interessantes os que reproduzo abaixo.

«R – O Benfica é um novo player no mercado, pelo que poderá financiar outros clubes se lhes comprar os direitos de TV. Isso não levanta questões de transparência?

MF – Compreendo a pergunta mas, como imagina, não vou criticar o comportamento de um filiado da Liga. A questão é que o Benfica não tinha alternativa. Face à cláusula de direito de preferência da PPTV, a única hipótese de não assinar contrato era pôr os direitos no seu próprio canal. Isso sustenta empiricamente a nossa queixa.

R – Concorda com a nomeação de árbitros estrangeiros para jogos mais importantes do nosso campeonato?

MF – Isso é uma falácia. Temos árbitros de nível mundial e devemos trabalhar sempre na ótica da transparência. É preciso profissionalizar um quadro fixo de 12 árbitros de topo que deve fazer uma experiência na 1.ª Liga durante um ciclo de quatro anos. Assim, apitam sem constrangimentos, como é a ameaça de descida de categoria. Por outro lado, um árbitro de top não pode terminar a carreira aos 45 anos só porque atingiu a idade limite. Se tiver condições, deve continuar a arbitrar.

JOAQUIM EVANGELISTA – Apesar de a Liga alargar para três os momentos de controlo financeiro, o incumprimento salarial continua a ser recorrente. Ao admitir como comprovativo de pagamento as “declarações de quitação assinadas pelos jogadores”, a Liga coloca o ónus no jogador e aceita ser “driblada”. Quando pretende acabar com este expediente e exigir os recibos de vencimento ou comprovativo de transferência?

MF – Faço minhas as palavras do presidente do Sindicato e tomo a pergunta como um desafio: iremos colocar essa solução em AG, pois também acho que os jogadores são o elo mais fraco e não posso receber declarações de quitação sabendo ou intuindo que haja contradeclarações a dizer que o valor em dívida irá ser pago em data posterior. Não pode ser. Os clubes têm passado por muitas dificuldades – e devo tirar o meu chapéu ao Sindicato, uma vez que temos procurado resolver em conjunto muitos problemas –, mas é preciso moralizar o futebol. Vou propor essa alteração ao regulamento, exigindo mais documentos e não apenas a declaração de quitação.»

O presidente da Liga tem um novo desafio pela frente: a reformulação dos quadros competitivos para a época 2014/15. Sobre a mesa está um modelo inovador que o dirigente, de 46 anos, vai apresentar aos clubes em AG que se realiza no final do mês...

RECORD – Trouxe a Portugal o guru dos modelos competitivos. O que vai mudar nas ligas profissionais?

MÁRIO FIGUEIREDO – Temos pela frente o desafio da reintegração do Boavista e pretendo aproveitar esse momento para promover uma mudança que seja sobretudo uma oportunidade para desenvolver o nosso futebol. Por isso convidei a Hypercube – empresa holandesa que se dedica há muitos anos ao desenvolvimento de quadros competitivos com base em análises científicas da performance global – para nos ajudar a criar um novo modelo de competições.

R – E então que trazem de novo?

MF – Pedi uma solução que tivesse em conta um conjunto de princípios. O primeiro, manter o efeito locomotiva dos clubes grandes no futebol português; o segundo, permanecer no top do ranking da UEFA; o terceiro, criar condições para uma melhor performance das nossas equipas nas provas da UEFA e se possível até diminuir o quadro competitivo, de forma a reduzir o número de jogos destas equipas no campeonato nacional. Simultaneamente, aumentar o número de jogos das equipas que não vão às competições europeias. Outro dos pilares essencial é aumentar o número de adeptos nos estádios.

R – Mas neste momento o que está sobre a mesa é o alargamento e não o emagrecimento da 1.ª Liga...

MF – Não dei essa questão como fechada. O que pedi foi uma solução para as nossas competições de acordo com os pilares que enunciei.

R – No entanto, parece ser consensual que a redução para 16 clubes não trouxe vantagens...

MF – A principal crítica que se faz quando se fala no alargamento é que podemos estar a trazer para a 1.ª Liga clubes mais fracos – não é o caso do Boavista, que até pode ser considerado do “quadro europeu”, pelo que só corremos o “risco” de ter um clube que não é do top ten.

R – Mas a sua convicção é de alargar, manter ou reduzir?

MF – A soberania sobre esta decisão é dos clubes. A mim compete-me fornecer aos clubes o maior número de elementos com base científica que lhes permitam tomar uma decisão ponderada e sustentada.

R – O modelo proposto é replicado do holandês?

MF – Não. A Hypercube propôs vários modelos, até aqueles já existentes – entre os quais o holandês, é verdade, assim como o escocês com 12 equipas a 3 voltas –, e deu conta das performances que têm a vários níveis: desportivo, financeiro, comercial. E apresentou um modelo inovador.

R – Pode levantar a ponta do véu?

MF – É um modelo em que beneficiamos das vantagens de ter 18 equipas e não sofremos os consequentes inconvenientes. Quero dizer com isto que os clubes de topo jogam mais vezes entre eles; permite que esses mesmos clubes joguem só 28 jornadas em vez de 30; permite-lhes também que beneficiem de uma pausa em janeiro – entre 15 dias a três semanas, à semelhança do que acontece na Alemanha –, o que faz com que quando se entra na fase mais importante das competições europeias as equipas tenham mais reservas de energias. Foi o que se verificou esta época com o Bayern e o B. Dortmund, que aniquilaram completamente os espanhóis. Aliás, nessa altura será possível saber já o nome de uma das equipas que irá à Liga dos Campeões da época seguinte, podendo investir nesse sentido. Ou seja, com este modelo os nossos melhores clubes poderão jogar mais vezes entre eles e com as melhores equipas do nosso campeonato, mas também permite que os emblemas do meio da tabela tenham mais jogos – em vez de 30 passam a fazer 36 ou 38 jornadas.

R – Explique lá como se saberá em janeiro o apurado para a Champions da época seguinte?

MF – Isso não posso dizer. É algo inédito e que acaba por ser uma grande vantagem em relação a todas as outras ligas. Eu próprio fiquei surpreendido. No dia 19 (quarta-feira) voltaremos a ter um encontro no qual, em função dos “inputs” que os clubes deram e dos formulários que preencheram e nos quais atribuem percentagens a vários itens (desportivo, comerciais, assistências) de acordo com os seus interesses, ser-nos-á apresentado o modelo final.

R – Os adeptos torcem o nariz a paragens no campeonato. Acha que essa proposta vai ser bem acolhida?

Os clubes de topo jogam 28 jornadas em vez de 30 e beneficiarão de uma paragem no início do ano

MF – O campeonato não vai parar, apenas aqueles que estão nas provas europeias terão uma pausa. Aliás, nesse quadro, os clubes que não se encontram na UEFA farão 36 a 38 jornadas.

R – Admite promover competição no Natal e no Ano Novo, a exemplo de Inglaterra?

MF – Desde que estou na Liga que tentei introduzir jogos a 28 e 29 de dezembro e era meu objetivo que se disputassem jogos no Natal. Isso vai ser ponderado. Uma das ideias que estamos a preparar para apresentar na assembleia geral vai no sentido de podermos oferecer um produto novo e atrativo ao adepto que vive no estrangeiro. Assim, a seguir aos sorteios da nossa Liga e das provas da UEFA, poderemos definir o calendário com exatidão, isto é, saber quem joga com quem e em que datas. Desta forma, será possível oferecer um pacote viagem/jogo que permita a um adepto do Benfica ou do FC Porto que vive em Londres ou Genebra poder comprar atempadamente um bilhete “low cost” de avião e um bilhete “low cost” para um jogo do clube da sua preferência. Nesse sentido estamos a trabalhar com as autoridades de turismo nacionais.

R – O alargamento surge em resultado da necessidade de reintegrar o Boavista. Acredita que o clube do Bessa vai reunir condições?

MF – Vai depender de muitos fatores. É a chamada “one million dólar question”. Sabemos que o Boavista, fruto de ter sido relegado para as competições não profissionais, ficou numa situação financeira muito complicada. Mas tem uma oportunidade para se ajustar em termos económico-financeiros e poder discutir com os seus credores uma política de recuperação da SAD, de maneira a que dentro de um ano consiga cumprir os requisitos. Estou convencido que se todos os credores e parceiros do futebol tiverem boa vontade de ajudarem na reestruturação financeira, haverá condições para receber na 1.ª Liga um clube centenário como o Boavista.

R – Há também um modelo novo para a 2.ª Liga. Como é?

MF – Na última época passámos de 16 para 22 clubes, com a incorporação das equipas B, e de 240 para 462 jogos. Houve um aumento de 96 por cento de jogos!

R – Que custos teve esse salto?

MF – Em termos de arbitragem foi mais 1 milhão de euros e 1,5 milhões de custos de realização de jogos.

R – Desequilibrou muito o orçamento da Liga?

MF – Todos os custos duplicaram e afetaram as contas da Liga. Mas vemos a situação como um investimento e não como um custo.

R – Voltemos ao modelo...

MF – Verificámos que ter 460 jogos por época é demasiado e dispendioso. Um dos problemas é também as fracas assistências. E essa é uma das nossas preocupações. O futebol para ser sustentável tem de ser uma pirâmide. O problema é que não é isso que temos. O que temos são 16 equipas na 1.ª Liga, seguido de um alargamento exagerado para 22 e outro exageradíssimo para 80 clubes na base. Temos que transformar esse desenho. Assim, e de acordo com o consenso que gerou, iremos ter uma 2.ª Liga com 24 clubes, divididos em duas fases. Uma primeira de cariz mais regional dividida em Norte e Sul – Coimbra será a divisória, atendendo à distribuição geográfica dos clubes.
As equipas a partir do meio da tabela classificativa terão mais jogos, podendo realizar 36 ou 38 jornadas


R – E as ilhas?

MF – Os clubes da Madeira entram no Sul e os dos Açores no Norte.

R – Segue-se então uma 2.ª fase...

MF – Passam os melhores de cada uma das zonas para discutir os lugares cimeiros e os restantes para lutar pela permanência na 2.ª Liga. A prova terminará com playoffs, de forma a manter o interesse até final e também de modo a incentivar a performance positiva dos clubes. Isto é, pretende-se que as equipas entrem em campo sempre para ganhar. Não podemos promover uma prova que beneficie as equipas que metem o autocarro à frente da baliza. Quero acabar com isso. Se houver esse incentivo ao longo de toda a competição – o que se traduz também a nível económico e de assistências –, também teremos um melhor futebol e mais competitivo, com as equipas a jogarem para a frente e com mais incerteza no resultado. Teremos assim duas ligas altamente competitivas e interessantes até ao fim.

R – O objetivo imediato é tornar viável a 2.ª Liga já esta época...

MF – Pois, temos de aguentar mais um ano.

R – E o último já foi muito penoso para os clubes...

MF – Sim, mas está também em discussão a reformulação da fase inicial da Taça da Liga. Ultimamente já não havia grupos mas sim eliminatórias no arranque da competição. Estamos a tentar reduzir ao mínimo o número de jogos das equipas da 2.ª Liga nessa fase da prova para contrabalançar o excesso de desafios no campeonato. Parece-me evidente que o aparecimento das equipas B foi benéfico. Repare que o título de campeão da 1.ª Liga foi decidido por um rapaz que o FC Porto repôs na sua equipa tirando partido da sua utilização nos B.

Como dizia em título, estou curioso sobretudo em saber como será o modelo do campeonato da 1ª Liga na época 2014/15. Isto porque ele diz que em Janeiro pode ser conhecido um dos representantes na edição seguinte da Liga dos Campeões, diz que os "grandes" podem jogar mais vezes entre eles, apesar da Liga ser composta por 18 clubes sem o consequente aumento de jogos. Disse ainda que a Taça da Liga também pode estar em perigo e que poderá haver uma paragem de 2/3 semanas em Janeiro para as equipas que estão nas competições europeias.

5 comentários:

Anónimo disse...

Felizmente e contra o meu pessimismo, pensei que perderíamos os 3 jogos, empatamos a final! Vai ser difícil, mas o factor casa pode ser decisivo...

Cumprimentos e desculpa o off topic!

Néry disse...

Interessante de facto. Apesar de também me me parecer que ou isto sai mesmo bem ou teremos uma salgalhada e uma desastrosa com indefinições, paragens e atropelos que poderão gerar graves problemas na nossa competitividade. Esperar para ver.

71460_5/8 disse...

acesso à champions garantido em Dezembro?? mas que raio!

sou completamente contra criar uma campeonato não clássico com 2 fases e playoffs ou a parvoíce que deve estar a ser pensada. chamem-me antiquado mas em vez de se andar a reinventar a roda o que se tem de fazer é simplesmente não inventar e trabalhar para que o que existe seja melhorado. o que interessa se o modelo é diferente se depois há jogos em batatais ou em campos de guerra? a violência é o factor que tem retirado mais pessoas dos estádios. depois se calhar é haver espectáculos pouco dinâmicos em que por vezes é permitida uma agressividade nefasta para o mesmo, para além de serem permitido as equipas que maltratem o relvado antes de receberem um grande ou que tenham campos sem dimensões de equipa grande. depois os horários dos jogos não ajudam. e por fim o facto de se permitir que alguns clubes vivam acima das suas possibilidades e aguentados por mecenas enquanto outros que têm mais adeptos são empurrados para o fosso.

ou seja o modelo do campeonato em nada vai mudar o que está pior no actual. mais jogos entre os grandes? onde é que isso beneficia os pequenos? e mais jogos entre os pequenos só vai significar mais jogos às moscas!

Unknown disse...

Acho que ele se contradiz, se admite que os jogos com as equipas mais pequenas não são rentáveis porque vai pôr as equipas do fundo da tabela a fazer 36 jornadas ? Mais, estas equipas praticamente só vivem das receitas de tv - contra os grandes e da bilheteira contra o Benfica (uma ou outra também contra o Porto). Ao diminuir os jogos das equipas grandes contra as pequenas, vai diminuir a receita destas.

O futebol espanhol que nos últimos anos dominou a Europa tanto por equipas como em selecções não tem qualquer pausa em Janeiro e tem 38 jornadas. Vai-se adoptar o modelo alemão de paragem só porque eles tiveram sucesso (exclusivamente 2 equipas na Champions) ? Os alemães param porque as condições climatéricas são muito adversas.

A Premier League não pára pelo contrário, a La Liga, a Liga italiana acho que também não, ou seja dos mais competitivos só os alemães param por causa do tempo. A menos que olhemos para os holandeses ou belgas como exemplo, not.

Na Argentina também se conhece logo um participante na Libertadores em Dezembro - o vencedor do Apertura. Não quero acreditar que vamos replicar um modelo do século passado ou avançar para o modelo da liga russa ou de play-offs.

A parvoíce grassa na Liga e como as equipas pequenas costumam votar em função de promessas, antevejo um negro futuro.

Unknown disse...

Querem ter uma Liga mais interessante ? Então sigam os modelos inglês ou alemão em que a generalidade dos jogos da jornada é ao princípio da tarde, pelo que mesmo havendo transmissões televisivas os estádios estão cheios.

Depois têm que enfrentar com coragem a questão da sustentabilidade financeira dos clubes. Se a generalidade das equipas não estiver em falência, muito mais dificilmente irão aceitar certas movimentações/cedências, pois estando com uma situação financeira sustentável tomarão as decisões no seu interesse em vez de cederem a interesses alheios.

Claro que estes são 2 pontos conflituantes com o status quo do futebol português e portanto nunca veremos qualquer medida tomada neste sentido.

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