1 - O futebol é cultura porque a ele corresponde uma forma de ser e estar; identifica um estilo e uma sensibilidade; é gerador de orgulho e fio condutor de histórias centenárias. Durante anos os jogadores viram-se quase obrigados a atuar como os adeptos exigiam, num processo de identidade coletiva que os aproximava do lugar onde se fizeram homens e do momento em que tomaram opções para o resto da vida. Hoje, o tempo é de uniformização. A mística, tal como a conhecemos, é cada vez mais uma quimera; o balneário, como elo de ligação a sentimentos duradouros e a passados de grandes conquistas, deixou de contar. O Benfica, por exemplo, cuja família nunca educou totalmente o incómodo por ter poucos ou nenhuns portugueses no onze, deu um passo em frente para se adaptar à nova realidade.
2 - Sinal de que nem tudo se perdeu pelos caminhos da modernidade, o museu é a primeira paragem dos reforços. Para 2011/12, porém, o Benfica rompeu com apelos à gloriosa história, como quem acredita que o êxito não depende da camisola, do símbolo, do passado e do meio em que as equipas estão inseridas. O presidente afastou do dia-a-dia um dos maiores símbolos encarnados dos últimos 20 anos (Rui Costa); o treinador dispensou Nuno Gomes, indiferente ao peso que tinha como aglutinador das várias sensibilidades na cabina; e agora que muita gente nova está a chegar, esperando que o líder lhes sirva de exemplo, até Luisão volta a esboçar o discurso patético de querer sair (entenda-se, ver melhoradas as condições salariais), repetido há vários anos por esta altura, indigno de um capitão de equipa que se preze.
3 - Basta olhar para a composição dos plantéis para vermos quão universal o fenómeno se tornou; quão heterogéneos se tornaram exércitos compostos por gente de infâncias, bairros, dificuldades e vidas diferentes. Quando a bola começar a saltar, porém, todos coincidirão na defesa do símbolo que trazem ao peito, despertando as cumplicidades que o jogo cria. É esse o milagre que a linguagem do futebol produz, feita de toques, movimentos, olhares, abraços, palavras de incentivo, de alerta e até de recriminação. A unir esses jogadores estão orgulho, ambição e qualidade técnica por vezes acima da média. Mas, mesmo oferecendo talento e suor, os vínculos que os unem à camisola são hoje muito mais voláteis. Com um balneário sem dono, só Jorge Jesus pode equilibrar abalo à mística. Tem pela frente desafio à dimensão do excelente treinador que é.
4 - Porque o Benfica contratou com qualidade e o seu mentor técnico tem o segredo de harmonizar o distinto em pouco tempo, não há motivos para admitir que a águia deixe de voar. Jesus tem mais talento para conceber e construir edifícios de raiz do que para gerir condomínios com vida própria; é um treinador mais próximo da descoberta do que propriamente da gestão; está mais à vontade a operacionalizar uma ideia a partir do zero do que em alimentá-la e aperfeiçoá-la pelo tempo fora. Porque vencer se torna muito mais difícil quando é obrigatório, a pressão suplementar para o treinador encarnado é a de não existir meio-termo: será preto ou branco, sucesso ou fracasso, herói ou vilão. Formar uma grande equipa e ganhar está, mais do que nunca, nas mãos de Jorge Jesus. Apesar dos muitos erros que cometeu, devemos reconhecer que, para o efeito, está em muito boas mãos.
(Rui Dias, in Record)
Um bom artigo de opinião a meu ver.
Um bom artigo de opinião a meu ver.
3 comentários:
O Witsel que vem para o benfica é este?
http://www.youtube.com/watch?v=Qv7sS3vYeAQ&feature=player_embedded
caro Manuel, o JJ tem que levar o Maior a vencer sempre se quiser continuar no Benfica.
quanto a mistica, a mistica sente se e mesmo que haja jogadores novos, rapidamente a terao de sentir, será passada pelos adeptos e pela grandeza do clube.
a mistica é uma coisa inexplicavel.
queremos conquistas, queremos titulos, queremos ganhar sempre.
Oh anónimo,já passaram piores pelo FCP só que felizmente para os adversários não aconteceu nada.
Conheces um tal de Paulinho Santos? Um Bruno Alves?
Quem vos dera ter este Witsel!
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